terça-feira, 20 de setembro de 2011

Patrão e empregado adoecem igual?


Os problemas de saúde dos trabalhadores estão intimamente relacionados com o grau de desenvolvimento alcançado por um país ou uma  região. Os avanços tecnológicos e as mudanças industriais redefiniram o cenário do trabalho no Brasil, com a passagem de uma economia primariamente agrária e de mineração para uma economia industrial, com ênfase nas atividades de comércio e serviço. As características desse processo de transição tiveram por conseqüência importantes problemas sociais e econômicos que se expressam, por exemplo, por um crescimento constante do setor informal, salários baixos, maior insegurança no emprego e grandes diferenças sociais e regionais no que se refere a desemprego e trabalho infantil.
Estudos mostram que o desemprego, o trabalho informal e a exclusão do mercado de trabalho estão associados a uma pior condição de saúde entre adultos brasileiros, independentemente de características sociodemográficas como escolaridade, renda e região de residência (Giatti, L e Barreto SM, 2006).  
A estes problemas se associam o deterioramento das condições de trabalho e crescentes danos ambientais. Os acidentes de trabalho são um dos subprodutos destas tendências, juntamente com uma grande carga de doenças profissionais e doenças relacionadas ao trabalho, cujas conseqüências contribuem para o agravamento dos problemas sociais que o país enfrenta. Acompanhando as grandes diferenças no desenvolvimento social e econômico das diversas regiões do Brasil, as características da saúde dos trabalhadores e das lesões e doenças relacionadas ao trabalho mostram um padrão misto, caracterizando uma carga dupla de doenças. Verifica-se a presença de algumas doenças já controladas em países desenvolvidos,
como a silicose e outras pneumoconioses, envenenamento por chumbo, asbestose, mesotelioma relacionado com o asbesto, ao lado de outras “novas” doenças relacionadas ao trabalho como afecções musculoesqueléticas (como a síndrome do tunel do carpo e outras), doenças dermatológicas causadas por compostos químicos, além dos sintomas e desordens mentais relacionadas ao stress, como a síndrome do burn-out. A combinação de formas tradicionais e novas de organização do trabalho acaba por determinar altos níveis de exposição aos perigos químicos e físicos, tarefas repetitivas, excessivo uso de força, posturas inadequadas, exposição ao stress e fatores psicossociais, causando sofrimento e incapacidades temporárias e de longo prazo (Gómez e Lacaz, 2005).
Contrariamente às doenças “profissionais” tradicionais, a identificação do grau de relação com o trabalho destas novas doenças associadas a condições modernas de trabalho, cuja importância é crescente, depende de estudos epidemiológicos que comparem diferentes grupos de trabalhadores, classificados de acordo com o tipo de trabalho, o tipo de ocupação e/ou o tipo de empresa (Schilling, 1984).  Apesar da importância da carga de doenças e das lesões  relacionadas ao trabalho, as estatísticas nacionais e os dados epidemiológicos ainda são dispersos e de baixa qualidade. O Ministério da Previdência Social produz relatórios anuais, que se limitam aos trabalhadores formais, excluindo também os empregados públicos civis e militares. Os dados do Sistema Único de Saúde (SUS), a respeito de lesões e doenças relacionadas ao trabalho, são de baixa confiabilidade, apesar da recente obrigação legal de relatá-los às autoridades de saúde pública (Binder e Cordeiro, 2003).
Apesar da importância da carga de doenças e das lesões  relacionadas ao trabalho, as estatísticas nacionais e os dados epidemiológicos ainda são dispersos e de baixa qualidade. O Ministério da Previdência Social produz relatórios anuais, que se limitam aos trabalhadores formais, excluindo também os empregados públicos civis e militares. Os dados do Sistema Único de Saúde (SUS), a respeito de lesões e doenças relacionadas ao trabalho, são de baixa confiabilidade, apesar da recente obrigação legal de relatá-los às autoridades de saúde pública (Binder e Cordeiro, 2003).
De acordo com os dados oficiais, referentes unicamente aos trabalhadores formais, 2.700 trabalhadores morreram em 2005 e 491.000 ficaram fora do trabalho, recebendo benefícios do seguro do trabalhador. Ao longo dos últimos 20 anos, vem ocorrendo uma diminuição constante dos acidentes de trabalho fatais, com uma queda de incidência de 26,2 por 100.000 (estimada em 1990) para 11,4  por 100.000 em 2003, correspondendo a uma redução de 56,5% (Santana et al, 2005). Esta tendência foi interpretada como resultante do aumento da participação do setor terciário na economia (o setor de serviços), onde os riscos ocupacionais de acidentes são usualmente baixos e também pela migração dos trabalhadores formais para a economia informal (Wünsch Filho, 1999, 2004).  Esta tendência de declínio foi também atribuída a mudanças no sistema de notificação (Fachini et al, 2005), já que não há nenhuma evidência de que foram adotadas no país ações eficazes para a prevenção.

Retirado de: http://www.cndss.fiocruz.br/pdf/home/relatorio.pdf

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