segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Texto de acúmulo - 24/08


No Brasil, em 2007, foram registrados 653.090 acidentes e doenças do trabalho entre os trabalhadores assegurados da Previdência Social. Entre esses registros, contabilizou-se 20.786 doenças relacionadas ao trabalho. Parte destes acidentes e doenças teve como consequência o afastamento das atividades de 580.592 trabalhadores devido à incapacidade temporária (298.896 até 15 dias e 281.696 com tempo de afastamento superior a 15 dias), 8.504 trabalhadores por incapacidade permanente, e 2.804 óbitos. Esses são dados do INSS. Como o Brasil não possui um sistema de vigilância epidemiológica em saúde do trabalhador efetiva, possivelmente os dados são bem piores do que esses: são maiores os acidentes de trabalho e doenças relacionadas ao trabalho. Para a OIT (Organização Internacional do Trabalho), esses dados justificam a localização do Brasil no quarto lugar em mortes devido ao trabalho em todo o mundo. Possivelmente, devido à agudização do processo de precarização e às parcas políticas em saúde do trabalhador, de 2007 até 2009, esses casos aumentaram de forma importante. Como se pode perceber, no nosso país, muitos trabalhadores são vítimas de doenças relacionadas ao trabalho, como distúrbio osteomusculares (como a LER-DORT), perdas auditivas e doenças de ordem psicológicas (como depressão e síndrome do pânico). O ambiente de trabalho se transforma num local de risco para a saúde e a vida do trabalhador. O principal fator dessa realidade não é a falta de capacitação do trabalhador para a atividade, não saber operar a máquina ou se distrair, provocando acidentes. É sim o modo de produção. A culpabilização do trabalhador pelas doenças e acidentes do trabalho é sempre a primeira saída para a problemática da saúde. Até o estilo de vida, a alimentação e a falta de descanso são desculpas utilizadas pelas empresas para tentar provar a inexistência de nexo das doenças ou acidentes com o trabalho. Contudo, nenhuma dessas questões são escolhas dos trabalhadores e sim imposições do próprio sistema. O cansaço permanente provocado pelo excesso de trabalho, as restrições compulsórias ocasionadas pela baixa renda e as pressões emocionais que fazem, inclusive, os operários trabalharem sem saúde com medo de serem demitidos são, portanto, desconsideradas como fatores de adoecimento e de aumento dos índices de acidentes no trabalho.

Com a crise econômica, os níveis de exploração experimentam limites bastante superiores de intensificação do trabalho, obrigando os trabalhadores a pagarem pela crise trabalhando dobrado de modo a recompensar as demissões. E nesse contexto de maior volume e ritmo do trabalho a questão da saúde com certeza vai submergir revelando a ponta do iceberg. Nas suas profundezas deve revelar as conseqüências dos freqüentes cortes no financiamento da saúde, da falta de resposta do SUS a essa problemática e da ausência do Estado na questão de políticas de saúde que transforme as condições de trabalho e promova saúde.

Seria um erro aqui afirmar que, em todo esse processo de mudanças no trabalho, não existiram discussões sobre a saúde dos trabalhadores e elaboração de práticas visando minimizar os efeitos do trabalho na saúde. Sim, existem teorias que orientaram modificações ergonômicas no ambiente (como máquinas e instrumentos), programas de assistência à saúde e de prevenção a acidentes ocupacionais. A tecnologia, a introdução de máquinas computadorizadas que exigem menos esforço físico na operacionalização e que possuem ajustes de segurança, reduziram os acidentes de trabalho mais graves, como perdas de membros ou mortes. No entanto, essas ações significaram, em ultima instância, adaptações do homem ao trabalho visando à intensificação da atividade e, assim, aumento da produtividade. Não existe melhoria real da qualidade de saúde dos trabalhadores, a exploração persiste e as doenças também.

Nesse sentido, a saúde dos trabalhadores sempre foi uma preocupação para o patrão, muito embora, esse conceito não tenha a mesma significação do que atribuímos. Para o dono de empresa, a saúde do trabalhador limita-se às condições físicas e mentais que lhe permitem trabalhar por horas sem permitir a queda da produtividade, sem faltar ao serviço e sem atrapalhar a execução do mesmo. A preocupação real do chefe é explorar ao máximo antes do aparecimento da doença, e para isso vale inovações na tecnologia e exercícios de relaxamento antes da atividade produtiva. Quando a doença se torna visível, ou seja, quando a produtividade diminui, a resposta que a empresa dá ao trabalhador é punição, assédio moral e demissão, a substituição por outro trabalhador sadio. A real preocupação é manter a força de trabalho sadia e produtiva.

Núcleo de Estudos em Saúde Pública

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